A Geografia Política surge no campo disciplinar da Geografia com Frederick Ratzel, destacando a importância do território, do Estado e do poder.
A Geopolítica surge com foco na projeção territorial do Estado com o sueco Rudolf Kjellen, discípulo de Ratzel.
Friedrich Ratzel
1844-1904
Para Ratzel, pai da Geografia Política, o Estado é pensado em analogia ao desenvolvimento dos organismos, nesse sentido a expansão do espaço vital é condição para sua sobrevivência.
“Sua teorização atua no sentido de legitimar o projeto expansionista, seja através de uma naturalização da guerra e competitividade entre as nações, seja pela apologia do Estado existente em suas obras. Isto não que dizer que Ratzel tenha sido um ideólogo direto das teses de Bismarck. Ao contrário, o vigor de seus argumentos demandava uma áurea de cientificidade, logo um distanciamento de questões práticas imediatas”. Antônio C. R. Moraes In. Ratzel (seleção de textos) (1990, p. 20).
Conceito: Lebensraum (Espaço vital)
- O espaço vital refere-se ao equilíbrio entre população e recursos de um Estado.
- O espaço vital é pensado em relação a um organismo vivo que nasce, cresce e fenece.
- Perdas territoriais indicam decadência de um espaço vital
“Quando se trata de um povo em via de incremento, a importância do solo pode talvez parecer menos evidente; mas pensemos, ao contrário, em um povo em processo de decadência e verificar-se-á que esta não poderá absolutamente ser compreendida, nem mesmo no seu início, se não se levar em conta o território. Um povo decai quando sofre perdas territoriais. Ele pode decrescer em número, mas ainda assim manter o território no qual se concentram seus recursos; mas se começa a perder uma parte do território, esse é sem dúvida o princípio de sua decadência futura”. RATZEL, Friedrich. Geografia do homem (Antropogeografia). Antônio C. R. Moraes In. Ratzel (seleção de textos) (1990, p. 73-74).
Rudolph Kjéllen
Ele foi um cientista político sueco, o primeiro a empregar o termo Geopolítica. Kjéllen, profundamente influenciado por Ratzel, via o Estado como um organismo geográfico.
O livro de Rudolf Kjellen "Teoria orgânica do Estado" possui forte influência da obra de Ratzel, "Kjellen assemelha o Estado a uma forma de vida que para crescer necessita expandir o seu espaço, levando ao auge o determinismo geográfico e legitimando a prática estratégica do Estado" (BECKER, 2009, p. 277).
Território como áreas estratégicas
Alfred Mahan
Alfred Mahan, em seu livro "A Influência do Poder Naval sobre a História" (1890), enfatiza que a supremacia dos Estados Unidos depende do poder naval. Ele destaca a importância do controle das rotas marítimas e de pontos estratégicos, como estreitos e canais, para garantir a segurança e o crescimento econômico e militar de uma nação. Sua obra é considerada fundamental para o desenvolvimento da geopolítica moderna e influenciou a política naval de várias potências no final do século XIX e início do século XX.
“[...] o almirante Alfred Mahan (1900) ao analisar os fundamentos de grandeza do Império Britânico, reconhece as desvantagens da contabilidade e atribui valor estratégico para o poder dos mares, verdadeira planície aberta a ser explorada. O poder naval para controle do mar é o que permite o domínio do mundo” (BECKER, 2009, p. 280).
A importância do controle das rotas marítimas relaciona-se com a construção, pelos EUA, do Canal do Panamá, entre 1904 e 1914.
“Sua hipótese influi em múltiplas práticas dos EUA desde a organização da esquadra, à tomada de posições-chave, bases coloniais e à abertura do canal do Panamá, práticas que visaram transformar o Caribe no ‘mediterrâneo americano’ e estender a influência dos Estados Unidos” (BECKER, 2009, p. 280).
(Nota: O Canal do Panamá foi iniciado pelos franceses na década de 1880, mas os EUA assumiram o projeto em 1904 e concluíram a obra em 1914. A construção do canal reforçou a estratégia de Mahan, pois permitiu aos EUA controlar uma rota marítima crucial entre os oceanos Atlântico e Pacífico, consolidando seu poder naval e geopolítico).
Halford Mackinder
Contesta a teoria do poder marítimo de Mahan. Em 1904 durante a conferência, "O Pivô Geográfico da História", Mackinder anuncia o fim da "Era Colombiana" e a ascensão do poder terrestre.
Mackinder destaca a importância do poder terrestre a partir de uma área Pivot (central) o heartland (coração da terra). De acordo com a teoria de Mackinder, a Inglaterra (potência marítima da época) devia se preocupar com o poder terrestre. A Rússia e Alemanha que fortaleciam o poder terrestre eram uma ameaça ao poder britânico.
“Quem controlar a Europa do leste, comanda o heartland; quem controlar o heartland, comanda a ilha mundial; quem controlar a ilha mundial, comanda o mundo” - Halford Mackinder
De acordo com Bertha Becker (2009, p. 279) “O poder repousaria no Heartland, que dominou de Pivô geográfico da história, devido a possibilidade de desenvolvimento autárquico, com base na extensão – do Himalaia ao Ártico e do Volga ao Yang-Tzé – nos recursos, na grande mobilidade interna possível na estepe com a ferrovia, e na sua condição de fortaleza natural. Tais condições lhe atribuíam uma posição estratégica e inacessível aos homens do mar, mas a partir dele é possível chegar a costa, ao crescente externo”.
General Karl Ernst Haushofer
- Nazista (2ª GM), fundador do Instituto de Geopolítica de Munique
- Aprofunda as ideias de Ratzel e Kjéllen
- Dividiu o mundo em quatro blocos geopolíticos (pan-regiões).
Karl Haushofer, geopolítico alemão e figura influente durante a Segunda Guerra Mundial, foi fundador do Instituto de Geopolítica de Munique. Ele aprofundou as ideias de Friedrich Ratzel sobre o conceito de “Lebensraum” (espaço vital), reinterpretando-as a partir do viés organicista de Rudolf Kjellén. Haushofer acreditava que a expansão territorial era essencial para a sobrevivência e o fortalecimento do Estado, ideias que influenciaram diretamente a política expansionista do regime nazista. Em 1946, após o colapso da Alemanha nazista, Haushofer e sua esposa, Martha Meyer-Doss (de origem semita), cometeram suicídio, marcando o fim trágico de sua trajetória.
Haushofer propôs uma divisão do mundo em quatro blocos geopolíticos, chamados de “pan-regiões”, cada um dominado por uma nação hegemônica. Ele defendia que a Alemanha deveria buscar alianças estratégicas para consolidar seu poder, como o pacto de não agressão com a Rússia e a aliança com o Japão durante a Segunda Guerra Mundial. Essas parcerias, segundo ele, garantiriam o acesso a recursos naturais e estabilidade política, fortalecendo a posição da Alemanha no cenário global. Suas teorias, embora controversas, tiveram impacto significativo na geopolítica do período.
“Influenciado pela geopolítica de Kjellen, pelo poder marítimo inglês e pela visão de Mackinder, a escola alemã conduzida pelo Major Hauschofer, idealizou a formação de Pan-regiões como forma de, através da complementariedade de recursos produzidos em climas diversos, alcançar a autarquia (1987). Segundo essa concepção, o império inglês correspondia, na verdade, a uma pan-região fragmentada, representada pelas colônias. A formação da Pan-região americana liderada pelos EUA, a Pan-África liderada pela Alemanha, Pan-Leste da Ásia pelo Japão e Pan-Rússia com a Índia, seria uma forma de romper o poder inglês, concepção que no plano da ação corresponde ao pacto de não-agressão à URSS e a aliança com o Japão” (BECKER, 2009, p. 279).
Nicolas Spykman
Destaca a importância estratégica das terras peninsulares da Eurásia “Rimland”, por concentrar população, recursos e linhas marítimas.
“No final da Segunda Guerra Mundial, Nicolas Spykman (1944) ofereceu subsídios à hegemonia americana, reafirmando o poder marítimo. Ainda seguindo a visão de Mackinder, elegeu como área estratégica para o poder o ‘Rimland’, as terras peninsulares da Eurásia onde se concentram a população, os recursos e as linhas marítimas. Parodiando Mackinder, estabeleceu que quem controlasse o ‘Rimland’ controlaria o mundo, alertando para a necessidade de impedir o domínio da Alemanha nessas terras através de múltiplas coligações dos EUA com outros Estados da América, Europa e Extremo Oriente” (BECKER, 2009, p. 281).
A obra de Spykman exerceu forte influência na política dos EUA de contenção comunista durante a Guerra Fria (1945-1989). Tal influência fora marcada:
- Força: Guerra da Coréia
- Desestabilização de governo: Ex Chile, Brasil
- Alianças e áreas estratégicas:
- Econômica: Plano Marshall
- “Aliança para o progresso” gov. Kennedy
- Cultura, CIA
- Fundação Rockefeller e Ford .
Neste contexto a Geopolítica ganha uma conotação negativa
Sinais de mudança
Jean Gottmann
Após a 2º Guerra Mundial a preocupação do Estado com áreas/regiões estratégicas perde importância. Neste contexto Jean Gottmann buscou renovar a teorização da Geopolítica. Ele propôs que o
território pode ser compreendido a partir de duas dimensões principais: como abrigo e como recurso. Nesse contexto, a dimensão do recurso passou a
ser mais explorada em seus estudos, destacando a importância dos elementos
naturais, econômicos e estratégicos presentes no território.
Observações:
- Jean
Gottmann foi um geógrafo francês que contribuiu para a renovação das
teorias sobre o território, especialmente com sua obra "A Geografia
Política do Espaço".
- A ideia do território como abrigo refere-se à sua função de proteção e organização social, enquanto o território
como recurso enfatiza seu potencial econômico e estratégico.
- Gottmann também é conhecido por cunhar o
termo "megalópole", que se tornou fundamental para os estudos
urbanos e regionais.
Yves Lacoste
Lacoste é outro geógrafo de destaque no movimento de renovação da Geografia. Ele busca problematizar e ressignificar a Geopolítica como ferramenta para a compreensão social, criticando a instrumentalização patriótica do saber geográfico. Para ele, a Geopolítica também serve como instrumento de combate ao Estado.
Em “Uma ilustração geográfica sobre a guerra: bombardeando os diques no rio Vermelho, Vietnã do Norte”, Lacoste enfatiza a importância do conhecimento geográfico para estratégias militares, como o bombardeio dos diques no Vietnã. Já em “A Geografia – isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra”, o autor critica a Geografia tradicional, que, a serviço do Estado e da dominação, é utilizada por professores para fins de controle e poder.
“[...] disse, em uma conferência em Xangai. ‘Em geopolítica, há dois polos absolutos de poder. O poder naval, que pertence ao Ocidente, e o poder terrestre, que é a Rússia. Há uma briga para controlar Heartland. Como dizia Mackinder, quem controla o leste da Europa, controla Heartland. E quem controla Heartland, domina o mundo’ ”. Fonte: Phil Tinline da BBC Ideas 20jan.2020
Bibliografia
BECKER, Bertha. A geopolítica na virada do milênio. In. Geografia, conceitos e temas. Rio de Janeiro. Bertrand Brasil, 2009.
MORAES, Antonio Carlos Robert (Org.). Ratzel. São Paulo: Ática, 1990.